sábado, 12 de junho de 2010

A História de Wolfgand Amadeus Mozart

Nosso Wolfgang Amadeus Mozart nasceu Johannes Chrysostomus Wolfgang Gottlieb Mozart, no dia 27 de janeiro de 1756, em Salzburgo, Áustria. Seu pai, Leopold Mozart, era um músico de talento e excelente professor de violino. Ele trabalhava como segundo mestre de capela da corte do arcebispado (Salzburgo era um Estado papal), servindo diretamente ao Príncipe-Arcebispo Siegmund Von Schrattenbach, um homem culto e sensível às artes.
A infância de Wolfgang foi encantadora. Desde muito cedo mostrou extraordinária vocação musical. Com quatro anos começou a ter aulas de música com o pai, e rapidamente aprendeu cravo e violino. Não tardou a compor pequenas peças, deslumbrando o pai e os amigos da família Mozart.
Mas o que chamava realmente a atenção de todos era a perícia do menino ao teclado, e a carreira de virtuose que o pequeno Wolfgang poderia ter fez Leopold brilhar os olhos. Era uma oportunidade imperdível, tanto para mostrar os seus dons como educador como para mostrar a glória que era seu filho. E, com seis aninhos, o prodígio fez sua primeira turnê pela Europa.
Wolfgang fez estrondoso sucesso nas cortes. Maravilhou a todos, soberanos, príncipes, cortesãos, com suas peripécias (muitas vezes mais acrobático-circenses que musicais). O garoto era um verdadeiro milagre e passou vários anos entre viagens com o pai e a casa em Salzburgo. Mas encontrava tempo para suas primeiras composições mais sérias, como a primeira ópera, La finta semplice, escrita em 1768 (quando tinha doze anos!).
Com treze anos, Wolfgang foi nomeado Konzertmeister da corte, o que equivaleria ao cargo de primeiro-violino. Passou algum tempo em Salzburgo e partiu para a Itália, onde recebeu algumas honrarias e conheceu a música e, principalmente, a ópera italianas. Foi uma viagem reveladora, que marcou o amadurecimento de jovem, que começava a imprimir sua marca pessoal às composições, como as óperas Mitridate e Lucio Silla.
Porém, quando voltou sofreu a linha dura do novo arcebispo de Salzburgo, Hieronymus Colloredo. De gênio ditatorial, Colloredo considerava os Mozart arrogantes e relaxados - ou vagabundos - demais. E apertou as rédeas nos dois músicos. Por quatro longos anos, ambos não saíram da corte (deram apenas umas "escapadas" à Viena), o que fez Wolfgang dar impulso às suas composições. Compôs copiosamente - quartetos de cordas, concertos, sinfonias, óperas... Foi em meio a esse período fértil, repleto de peças encantadoras, feitas tanto para a corte como para nobres e burgueses da cidade, que Mozart decidiu largar essa vida servil. Em 1777, pediu demissão ao arcebispo Colloredo, que - máximo da humilhação - não aceitou e ainda devolveu a carta.
Mesmo assim, Mozart seguiu com seus planos. Partiu em busca de emprego e oportunidade pela Europa, acompanhado pela mãe, já que Leopold ficara em Salzburgo, por conta de suas obrigações com Colloredo. O compositor, em suas andanças, tomou contato com a orquestra de Maneiem, que o incentivou a escrever novas obras, mais livres que as compostas na corte. E conheceu a jovem cantora Aloysia Weber, por quem se apaixonou. Mas, no final das contas, foi rejeitado.
Em 1779, a contragosto, Mozart teve que voltar a Salzburgo, que considerava insuportável. Passou mais dois anos preso na corte, "tocando para as mesas e cadeiras", como escreveu depois. Era um clima obviamente ruim, pela hostilidade de Colloredo e pela indiferença da corte, mas Mozart não parava de compor: são do período a Missa da Coroação, a Sinfonia Concertante, para violino e viola a Posthornserenade, a ópera Idomeneu, entre outras obras-primas.
Colloredo, no entanto, tratava o compositor como um "empregado doméstico", usando as palavras do próprio Mozart. Em 1781, o arcebispo e a corte foram ao encontro de José II, o novo imperador da Áustria, em Viena. Mozart fez algum sucesso na cidade e obteve bom número de admiradores. Queria ficar, mas Colloredo queria enviá-lo a Salzburgo para entregar uma encomenda. O pedido foi prontamente recusado. Em maio, após outra negativa do compositor, Colloredo o chamou de crápula, cafajeste e vagabundo e o expulsou. Mozart pediu demissão, mas só teve ela "aceita" no dia 8 de junho, quando foi posto na rua aos pontapés pelo chefe de pessoal de Colloredo, o conde Arco. "Então, essa é a maneira de convencer as pessoas, de amolecer as pessoas? Jogando-as porta afora com um chute na bunda? Esse é o estilo?", desabafou o compositor em uma carta.
Mas Mozart estava feliz. Conseguira a liberdade que desejava, e só restava conquistar o público vienense. O que ele conseguiu, pelo menos nos primeiros anos. Ele se tornou um virtuose (era mais respeitado como intérprete do que como criador, mal, aliás, que atingiu grande parte dos grandes compositores) conhecido e requisitado, e levava a vida com certa fartura.
Casou-se em 1782 com Constanze Weber, irmã de Aloysia, uma musicista de talento apenas mediano, mas mulher afável e carinhosa. Os dois, apesar de não estarem exatamente apaixonados, conviviam muito bem. Neste clima, os primeiros anos vienenses de Mozart foram tranqüilos, mas ele não era exatamente uma pessoa tranqüila. Como escreveu seu cunhado Lange, que pintou seu retrato, o compositor exprimia certa "angústia íntima", que contrastava com a alegria e frivolidade que demonstrava em sociedade. Era uma pessoa melancólica e irriquieta ao mesmo tempo.
A busca deste "eu", que sempre angustiou Mozart, levou-o à maçonaria. Ele entrou na ordem como aprendiz em 1784, e no ano seguinte já era mestre. Foi uma adesão séria, e realmente engajada, como atestam uma série de obras de inspiração maçônica, que datam desta época.
A influência da maçonaria não se limitou a essas obras dedicadas à ordem. Em outras peças do período, Mozart atinge o ponto alto em matéria de profundidade e expressão pessoal. São obras às quais não foram impostas nenhuma amarra - nem a corte, nem a burguesia - e simbolizam a conquista da liberdade tão almejada pelo compositor. Era um homem livre, talvez o primeiro da História da Música.
Mas sua popularidade entre a sociedade vienense cai talvez em conseqüência disso - afinal, Mozart estava compondo mais para si do que para o público. A grande ópera As Bodas de Fígaro, estreada em 1786, foi um fracasso financeiro, e as preocupações materiais começam a aparecer. Um refúgio temporário foi Praga. Lá a acolhida de As Bodas de Fígaro foi entusiástica, o que levou à encomenda de outra ópera: Don Giovanni. Foi um sucesso estrondoso entre os tchecos, mas a estréia em Viena resultou em fiasco igual ou maior ao da ópera anterior. A situação econômica de Mozart piora muito, o que se pode notar pelo número de empréstimos e de dívidas. As encomendas rareavam, e a fama já não mais existia.
Em 1791, recebeu de um amigo maçom, a encomenda de uma ópera. Seria uma ópera diferente, não para ser encenada para o Imperador, mas para o povo. A história, por meio de um conto de fadas, fazia a apologia da maçonaria e de seus valores (a busca de si mesmo, a sabedoria e a fraternidade). Era A Flauta Mágica, a maior obra-prima de Mozart. Sua estréia, em um pequeno teatro popular na periferia de Viena, foi um triunfo total e contínuo. As apresentações não cessavam e a fama da ópera correu toda a cidade, como uma coqueluche.
As encomendas a Mozart, conseqüentemente, aumentaram de maneira substancial. Entre elas, um réquiem. Há muitas lendas em torno deste assunto. Fala-se de um "homem misterioso", que teria feito a encomenda, sem se identificar, e cuja presença aterrorizaria Mozart, já próximo de sua própria morte. O homem misterioso seria a Morte personificada?
O filme Amadeus, de Milos Forman, mostra o compositor rival, Antonio Salieri, como o encomendante. De fato, por algum tempo acreditou-se que Mozart teria sido envenenado pelo invejoso e rancoroso Salieri. Atualmente, não há porque levar a sério essa hipótese, mas a vida de grandes artistas sempre suscita grandes fantasias - como exemplo, as lendas em torno de Paganini.
Na realidade, não há nenhum "homem misterioso". O Requiem fora encomendado por um nobre, o conde Von Walsegg-Stuppach, que queria homenagear a memória da esposa e fazer-se passar como o compositor da música.
Mozart, muito atarefado (muitas encomendas e apresentações da Flauta Mágica) e doente (seus rins estavam quase destruídos), foi escrevendo o Requiem quando podia, apressadamente, dando até mais importância para outras obras. Estaria ele incomodado pelo fato de escrever uma missa fúnebre? Especulações à parte, o fato é que não conseguiu cumprir a encomenda. Wolfgang Amadeus Mozart morreu em 5 de dezembro de 1791.
No final das contas, o Requiem, completado pelo discípulo Franz Xaver Süssmayr, acabou sendo composto para si mesmo.
Mozart, Haydn e Beethoven são os grandes pilares do Classicismo. Mas, enquanto Haydn, mais velho, pioneiro e iniciador, tinham um pé no Barroco, e Beethoven, mais novo, ampliador e revolucionário, tinha um pé no Romantismo, Mozart é o elemento central do período. Schumann costumava dizer que "Mozart é a Grécia da música" e a frase não poderia estar mais correta. Se Mozart não tivesse existido, a segunda metade do século XVIII poderia até ser considerada apenas uma fase de transição. A obra mozartiana representa, então, a maturidade do estilo clássico, e sua expressão mais pura e elevada.
Entretanto, Mozart foi ainda além. Ele estava longe de ser uma personalidade frívola e despreocupada como uma criança, como se acreditou até algum tempo. Mozart era uma pessoa extremamente angustiada e irriquieta em busca de seu "eu". "Em Salzburgo, não sei quem sou, eu sou tudo e também muitas vezes nada. Eu não peço tanto, mas tão pouco assim também não: basta-me ser somente alguma coisa!", reclamou ao pai, quanto tinha dezessete anos. Mais velho, encontrou sua resposta na maçonaria, mas toda sua obra reflete essa busca interior. Como escreveram Jean e Brigitte Massin, "é essa busca que faz de Mozart o primeiro dos gênios musicais de nossa modernidade mental".
Ao mesmo tempo, portanto, Mozart consegue ser, dos clássicos, o mais clássico e também o mais romântico. Em sua obra, o formalismo, a frivolidade e a superficialidade unem-se à expressividade, à subjetividade, ao sentimento. É uma grande contradição que Mozart trata sempre do modo mais harmonioso possível. O resultado é uma obra sublime e apaixonante, que nunca deixa de envolver o ouvinte.
Os gêneros mozartianos por natureza são dois: o concerto, principalmente para piano, e a ópera. Mas ele cultivou também todas as formas de sua época, em uma produção vastíssima (cerca de seiscentas obras) para uma vida tão curta, de apenas 35 anos.

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