segunda-feira, 31 de maio de 2010

A História da Industria Automobolística Brasileira III

Sinca Chambord

Os motoristas do Expresso Luxo, uma frota de carros que fazia - e faz até hoje - a ligação entre São Paulo e o litoral, desciam e subiam a serra várias vezes por dia. E qual era o carro preferido por eles? O Simca Chambord, quando a alternativa era o Aero Willys. "A suspensão era macia e a direção, muito leve, além de fazer mais de 200 mil km sem mexer no motor", diz Eloi Barufa, 73 anos e mais de 40 trabalhando no Expressinho, como era conhecido o serviço. Mas a verdade é que, no começo, pouca gente colocava a mão no fogo por ele. Seu apelido era Maestro, "um conserto (com "s") a cada esquina". Na verdade, o Simca Chambord, lançado em 59, vinha da França e era praticamente apenas montado aqui. Logo, porém foi sendo tropicalizado, ganhando a confiança e a simpatia do público.

Apesar do V8 sob o capô, o Simca Chambord não tinha um desempenho eletrizante. No início, seu motor de 2 351 cc desenvolvia modestos 84 cavalos. E o torque só aparecia nas rotações mais altas. Por isso dava para saber com quarteirões de distância que um deles se aproximava. Para seus fãs, poucas sinfonias equivalem ao prazer de ouvir o inconfundível grito do V8 acelerando, característico devido à seqüência de explosões de um cilindro de cada lado. As versões seguintes foram ficando mais potentes. Mas o Simca só ganharia massa muscular de fato em 66, com a adoção do motor EMISUL com 130 cavalos.

Sua sofisticação incluía faróis de neblina incorporados à grade dianteira, um painel completíssimo com hodômetro parcial e um curioso sistema que fazia o retorno da alavanca do pisca, quando uma resistência aquecia depois de 3 segundos. Outra novidade do Simca, nos modelos entre 64 e 66, era o comando de avanço do distribuidor, recurso do qual poucos motoristas sabiam tirar partido. Mas excêntrico mesmo era o nome de algumas cores do catálogo, como ketchup metálico, para designar um vermelho-cereja.

Fizeram parte da família uma adaptação esportiva, o Simca Rally, o luxuoso Presidente (versão top de linha que tinha como opcional o estepe que ficava exposto atrás do porta-malas) e no outro extremo o Alvorada, uma versão "pé-de-boi" muito usada como táxi. No entanto, nenhum deles batia o charme da Jangada, a primeira station-wagon nacional e que na França se chamava Marly.

Hoje, é difícil alguém que não vire a cabeça para ver um Simca passar. Com o modelo da foto, um Simca Tufão 66, não foi diferente. E ao volante, a confirmação das qualidades que fizeram sua fama: a maciez e o conforto dão prazer de dirigir. Passar sobre o calçamento de paralelepípedos, mais do que alimentar a nostalgia, serviu para apreciar o bom trabalho da suspensão. O câmbio na coluna de direção, de três marchas, tem engates fáceis e é preciso manter o regime de rotações mais alto para não perder potência nas trocas de marcha. A boa visibilidade em todos os sentidos torna a condução mais confortável, assim como os bancos, para seis pessoas, revestidos de curvin. O modelo Tufão, já com motor de 100 cavalos, passou pelo teste de QUATRO RODAS em setembro de 64, quando foi apresentado. Seus números: 135,4 km/h de máxima e 23,3 segundos na prova de aceleração de 0 a 100 - uma eternidade.

O Simca desapareceu no início de 1967, quando a Chrysler assumiu o controle da fábrica. Foram fabricados 50833 carros e hoje é difícil encontrar modelos em bom estado, o que faz com que seu preço entre os colecionadores seja elevado às alturas. Foram produzidas no Brasil cerca de 54.000 unidades durante o período de industrialização deste modelo.

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