Para compreender melhor a colonização e a imigração temos que analisar o momento histórico vivido na Itália e no Brasil. Em 1870, após 50 anos de luta, a Itália se unifica e as formas feudais são substituídas pelo capitalismo industrial. Em 1855 o governo institui altos impostos, endividando os pobres que perderam as terras para o governo ou para os proprietários maiores, também chamados ‘senhores’. Além disso, a substituição do artesanato pela produção industrial gerava desemprego. O excesso de população aliado à doenças endêmicas e ao horror à guerra e ao serviço militar, deixaram o povo italiano sem perspectivas de melhorar sua própria qualidade de vida. A solução encontrada na época para uma vida mais digna era emigrar.
Sendo assim, havia de um lado um processo econômico que induzia à industrialização e, de outro, a preservação de estruturas latifundiárias. Nesse contexto, o excesso de população foi rapidamente transformado em algo negociável. Os imigrantes eram, em certo nível, uma mercadoria, e a propaganda para atraí-los foi bastante enganosa. Essas transformações políticas e econômicas resultaram em tensões sociais internas na disputa pela terra. As massas populares italianas encontravam-se condenadas à miséria e à fome.
Regiões de Procedencia dos Primeiros Imigrantes
As regiões do Norte da Itália geraram emigrações para a região Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, especificamente para Bento Gonçalves de acordo com a proporção a seguir, de onde se pode concluir que a grande maioria dos imigrantes chegados a partir de 1875 é de proveniência vêneto-lombardo-trentino-friulana.
VÊNETO: 54% - Províncias de Beluno, Pádua, Rovigo, Treviso, Veneza, Verona e Vicenza
LOMBARDIA: 33% - Províncias de Bérgamo, Brécia, Cremona, Mântua, Milão, Pávia
TRENTO: 7% - Províncias de Alto Adige, Bolzano e Trento
FRIULI (ou Venecia Julia): 4,5% - Províncias de Trieste, Udine e Pordenone em menor escala:
PIEMONTE: Alessandria, Navara e Vercelli.
EMILIA-ROMANHA: Ferrara Modena, Parma e Piacencia.
TOSCANA: Livorno, Lucca, Carrara e Pisa.
LIGURIA: Gênova e La Spezia.
Os Motivos da Imigração
No final do século XIX, enquanto havia excedentes de população na Europa, o Brasil adaptou-se aos interesses do capitalismo modificando sua política de mão-de-obra e de terras. A maior parte do território brasileiro estava desabitado e sofria com a carência de mão-de-obra livre. Com o processo imigratório, o Brasil teria seus problemas resolvidos pela substituição da mão-de-obra escrava na lavoura e pelo povoamento de áreas desocupadas, com ênfase ao desenvolvimento agrícola das regiões do sul do Brasil.
O território do Rio Grande do Sul ficou definido após três séculos e meio da chegada dos portugueses e espanhóis. Pela ausência de recursos naturais do antigo sistema colonial, o Rio Grande do Sul ficou meio século isolado dos interesses tanto de Portugal quanto da Espanha.
Os jesuítas tiveram fundamental importância no desenvolvimento do Rio Grande do Sul. O comércio na região da Prata beneficiou as nações européias, enquanto que a pecuária e a extração da erva-mate foram decisivas no processo de povoamento.
Com a Revolução Farroupilha entre os anos de 1835 e 1845, ocorre o encerramento da corrente imigratória, que reinicia de forma contínua em 1875 com a chegada da imigração italiana para a Encosta Superior do Nordeste, originando as colônias Dona Isabel (hoje Bento Gonçalves), Conde D’ Eu (hoje Garibaldi) e Nova Palmira (hoje Caxias do Sul).
A Chegada dos Primeiros Habitantes à Bento Gonçalves
Até 1870 Bento Gonçalves chamava-se Cruzinha. Neste ano o Governo da Província, desejando ampliar a área de colonização, por ‘acto’ de 25/05/1870 assinado por João Sertório, então Presidente (hoje corresponde ao cargo de governador) do Estado do Rio Grande do Sul, criou a colônia de Dona Isabel, a qual contava com a abrangência de 32 léguas quadradas.
Ao chegarem à colônia os imigrantes eram recebidos por uma Comissão de Terras que deixava muito a desejar. Os imigrantes eram alojados em barracões e se alimentavam de caça, pesca frutos silvestres e do pouco que era fornecido pelo governo até se instalarem em seus lotes rurais. Ao se instalarem, iniciavam uma agricultura de subsistência representada pelo cultivo de milho, trigo e videira.
As primeiras indústrias artesanais, com características domésticas e utilização somente de mão-de-obra familiar, assim como o comércio de troca e venda de produtos, surgiram com a produção de excedentes agrícolas e com a criação de animais. A troca, compra e venda de produtos era feita na sede da colônia, após longas caminhadas por estreitas picadas (trilhas abertas na mata), demarcadas pelos próprios imigrantes.
Os Primeiros Passos do Progresso
Em 1881 é iniciada a abertura da primeira estrada de rodagem, chamada Buarque de Macedo, ligando as colônias Dona Isabel, Conde D’ Eu, e Alfredo Chaves. É a atual RST 470, a mais antiga via do Rio Grande do Sul a ligar Montenegro até o Estado de Santa Catarina.
A colônia Dona Isabel foi desmembrada da então colônia de São João de Montenegro através do Ato nº 474, de 11/10/1890 pelo Governador do Estado General Cândido Costa, com a denominação de Bento Gonçalves em homenagem ao General Bento Gonçalves da Silva, chefe da Revolução Farroupilha (que durou de 1835 a 1845) e Presidente da República do Piratini, hoje Estado do Rio Grande do Sul. O primeiro prefeito, na época chamado de Intendente, foi o Coronel Antônio Joaquim Marques de Carvalho Júnior, que permaneceu no poder durante 32 anos. Em 1919 foi inaugurada a linha férrea ligando à capital Porto Alegre a Bento Gonçalves e trazendo impulso ao progresso da região. Em 1922 foi instalada a luz elétrica. Em 1927 foi inaugurado o primeiro hospital. A Rua Marechal Deodoro foi a primeira via pública a ser calçada no ano de 1940. A rádio difusora ZYQ 5 foi a primeira emissora de rádio a ser fundada em 15 de novembro de 1947.
Em 1925 foi comemorado o Cinqüentenário da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul. Nesta época a principal economia do município era baseada em produtos suínos e o segundo produto mais representativo era o vinho. A população do município era atendida por 248 estabelecimentos comerciais. As ferrarias e selarias eram substituídas pela mão-de-obra e os famosos “fordecos” (carros da linha Ford) já transitavam pelas ruas.
Progresso e Desenvolvimento Econômico
Em 1940 a agricultura vai sendo substituída pela indústria, que aos poucos diversifica sua produção, gerando mais empregos. A industrialização atrai novos contingentes de trabalhadores, migrantes de outros municípios da região. Aumenta a circulação de dinheiro e mudam os hábitos e costumes dos moradores, assim como o poder de consumo. São instaladas as primeiras casas bancárias: o Banco de Pelotas e o Banco Nacional do Comércio.
No início da década de 1950 o município de Bento Gonçalves apresentava uma população de 23.340 habitantes, sendo que 6.280 pertenciam à zona urbana e 17.060 à zona rural e suburbana. Na economia, destacava-se o setor agrícola - principalmente a produção vitivinícola - além da agricultura de subsistência.
Em 1955, Bento Gonçalves iniciou a fabricação de móveis em estilo artesanal. Nos anos 60 a Indústria de Acordeões Todeschini, a maior da América Latina, exportava acordeões e escaletas (instrumento musical) para o México. Em 1967 o vinho dá um impulso ao desenvolvimento econômico de Bento Gonçalves com o surgimento da Festa Nacional do Vinho (Fenavinho).
Em 1970 surgem muitas indústrias moveleiras que caracterizam até hoje a cidade de Bento Gonçalves como um dos maiores pólos moveleiros no sul do Brasil. O local onde foi realizada a primeira Fenavinho é hoje o Parque de Eventos onde se realizam grandes feiras de âmbito nacional e internacional como Movelsul, Fimma e Fiema, que contam com a participação de expositores e visitantes de mais de 30 países.
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