segunda-feira, 24 de maio de 2010

História da Industria Automobilística Brasileira I

O Romi-Isetta é o carro mais exótico já fabricado no Brasil. O eixo traseiro é bem mais estreito que o dianteiro e ela aparenta ser ainda menor do que realmente é, com 2,27 metros de comprimento por 1,38 metro de largura. Entra-se nele literalmente pela frente. Foi justamente por falta de uma segunda porta que o carrinho, lançado em 1956, não foi considerado oficialmente o primeiro carro nacional. No ano anterior, as Indústrias Romi, que até hoje fabricam máquinas operatrizes em Santa Bárbara d'Oeste (SP), deram início à fabricação da versão brasileira da Isetta, sob licença da fábrica italiana ISO.
Os instrumentos não são mais que um pequeno velocímetro - que marca até 100 km/h - e três luzes-espia: dínamo pisca e farol alto. Com exceção do pára-brisa, os "vidros" são de plástico e garantem a visibilidade de um Spitfire da Segunda Guerra.
O Romi-Isetta tinha algumas soluções originais. Por exemplo: o motor de partida e o dínamo, que alimenta o sistema elétrico de 12 volts, formam uma única peça. Debaixo do banco há uma torneirinha, como nas motos, que comuta a passagem para a reserva de 3 litros do tanque de combustível (com capacidade de 13 litros). E a transmissão é feita por duas correntes, que levam a força do motor às rodas traseiras.
Os primeiros Romi eram equipados com motor dois tempos, de dois cilindros. Para o modelo 1959, o último a ser fabricado regularmente, a fábrica anunciava nas revistas uma velocidade máxima de 95 km/h, um consumo de 25 km/l e garantia que o carro "vence com sobras as subidas mais íngremes", graças ao novo motor BMW de quatro tempos monocilíndrico, de 298 cc e 13 hp de potência. Descontado o entusiasmo do redator do "reclame", 80 km/h por hora parece uma velocidade mais próxima da realidade. Nas retas, o carrinho desenvolve bem, desde que não haja timidez no trato com o acelerador. Dos buracos, é melhor passar longe. A suspensão é cumpridora, mas não pode fazer milagres com as rodas de aro 10. Mas os freios seguram bem a barra. Abrir o teto de lona é uma necessidade nos dias mais quentes: os grandes quebra-ventos não dão conta de ventilar a cabine.
Mesmo depois de encerrada a produção, alguns Romi-Isetta ainda foram montados, com o estoque de peças remanescente. No total, foram fabricadas cerca de 3000 unidades.
O público nunca levou o Romi-Isetta muito a sério. Era visto mais como uma excentricidade do que uma solução prática de transporte. E o fato de ter ficado à margem da política de incentivos à indústria automobilística, durante o governo Juscelino Kubitschek, fez com que seu preço não fosse competitivo - em 1959, ele custava mais de 60% do preço de um Fusca. Esses fatores contribuíram em parte para encurtar sua temporada por aqui. Mas, assim como muitos animais pré-históricos, ele foi vítima da seleção natural, devido a suas próprias limitações. Especialmente a de locomover-se mais rápido.



Nenhum comentário: