quarta-feira, 14 de abril de 2010

Vida à Soberana Araucária


Dinossauros se deliciavam com suas folhas e suas sementes, os pinhões. Ela tratou-se de adaptar, para sobreviver: esticou o caule até os 50 metros, altura de um prédio de 50 andares, a ramagem, lá no topo, virada para cima, lembrando um candelabro. Foram-se os dinossauros 60 milhões de anos atrás. E ela aí continua, há 200 milhões de anos, uma das árvores mais antigas do planeta. Viu outras espécies tanto animais como vegetais surgirem e desaparecerem. Atravessou sã e salva as glaciações, pois, mesmo coberta de neve ela não morre. Ainda que não fosse pela majestosa presença, pela madeira, pelo nutritivo pinhão, nós, com nosso mísero um milhão de anos de existencia, deveríamos prestar reverencia à Araucária.

De crescimento lento esta conífera vive até 700 anos. Mas já aos 15 pode dar pinha e nos abastecer a cada estação, de até 250 kilos de pinhões. Ela nasceu, segundo os indígenas, do amor entre Curiaçu e Guaraci, jovem de tribos inimigas. Curiaçu leva uma flechada quando carrega Guaraci nos braços, depois de salvá-la do ataque de uma onça. Ele morre antes que ela se refaça e o socorra. Tupã então comovido transforma Curiaçu na Araucária e Guaraci, na Gralha Azul que semeia pinhões pela floresta, perpetuando assim o seu amor.
Note que em Tupi Guarani, Curiaçu significa pinheiro grande e Guaraci, Sol, mãe dos viventes. Mas não é a Gralha Azul que enterra os pinhões para comer depois, levando-os a germinar. Ela deixa cair alguns enquanto os leva para casa, nos ocos das árvores. A prática de enterrar estas sementes é da Cutia, principal responsável pelo nascimento de novas árvores.

Quando os Bandeirantes chegaram ao Sul, viram tudo coberto pela gigante floresta de bilhões de Araucárias. Três séculos depois restaria apenas 5%. Primeiro foram os colonos que usaram a madeira branca, resistente, nem dura nem, mole, fácil de pregar. E eis que no meio do século 20 Juscelino Kubitschek resolve erguer uma nova capital. Vem ao Sul conhecer a Araucária e como resultado praticamente toda a madeira utilizada nas obras de construção de Brasília foi a Araucária. Os paulistas também gostaram da madeira e praticamente a devastação alastrou-se pelo Sul. 

Uma festa para a bicharada.
Março. Uma alegria sem igual se espalha nos pinheirais. É a Gralha Azul, Pomba Rola Perdiz, Anta, Capivara, Veado, Preá, Queixada, miríades de insetos, Paca, Tatu, Capivara, bandos de Papagaios que chegam ao escurecer o céu, ávidos pelas amêndoas. A Cutia, boa de ouvido, não perde um ruído de pinha caindo.
Agosto. Os Bugios são os últimos a sair da festa. As pinhas da variedade indebiscens amadurecem. Mas estas não se abrem nem caem. Só eles, com garras e dentes, regalam-se com o pinhão de macaco.



Nenhum comentário: